quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Amanheceu...



Ou assim pareceu para mim...

Novamente eram eu e as copas das árvores ao meu redor...

Não me lembrava da última vez que havia fechado meus olhos por mais que uma piscadela... Eram somente eu, as copas das árvores com seus opacos brilhos que tentavam me espionar ali embaixo, a lama com algumas folhas velhas, algumas poças de água, e as vezes, a orquestra da chuva... Não havia animais, não havia pessoas. Nada além de mim e a floresta...

Fazia quanto tempo estava ali, deitada?

Quando fora a última vez que caminhei pelas secas estradas por entre campos e colinas quentes e acolhedores?

Quando fora a última vez que vira qualquer cor diferente daquele azul sinistro que me acalmava e preenchia minha existência?
Quando fora a última vez que sentira qualquer outra coisa além de frio, dor e...



e...



...



Qual a última coisa que eu conseguiria lembrar?



...


Estendi uma de minhas mãos para o céu...

Negra... Indefinida... Sua composição não era diferente da névoa que surgia no inverno ou das nuvens lá em cima. Mas ela estava ali. Negra, indefinida e oscilante...
Ela sempre fora assim? Não conseguia lembrar de uma forma diferente daquela... Talvez sempre fora assim...

Devolvi minha mão à lama.

Revolvi a lama.

Enterrei minha mão na lama.

Macia. Aconchegante. Em parte era apenas terra umedecida... Fresca. Úmida. Em parte era uma pasta inconsistente que fluía quase como água por entre meus dedos... E escorria como o tempo que eu esquecera para se juntar ao resto do mundo abaixo da minha mão.

Sentia-me estranha... Algo em mim não estava normal... Sentia os membros pesados. Não por cansaço, afinal, estivera descansando pelo tempo que me parecia ser anos. Meus tornozelos pesavam. Meus pulsos pesavam. Meu pescoço pesava. Meu peito pesava... Uma sensação contraditória de conforto e desconforto. Era bom estar ali. Mas... Também não, como se meu corpo me dissesse "levante-se de uma vez! Cansei de ficar aqui!"... Mas eu não queria levantar...

...


...


...


!

Uma brisa passou pelo topo das árvores... Mas era uma brisa estranha... Uma brisa que não fazia parte do inverno... Na verdade não fazia parte de qualquer outra estação...

Eu nunca gostei daquela brisa... Parecia me perseguir sempre que me tomava por consciente.




Era hora de levantar... E caminhar pra longe dali... Novamente.