terça-feira, 18 de junho de 2013

"Não..."

... repetiu aquela voz novamente. Fora essa única palavra que ecoara diversas vezes, porém com um intervalo grande entre uma vez e outra, e várias imagens que preencheram o escuro antes eterno de minha mente vazia. Vi aqueles homens sorrindo num fundo escuro, depois os mesmos homens, mas com uma feição deformada... Vi outras pessoas sorrindo num fundo claro, mas era um sorriso mais agradável... Vi construções, vários objetos, muitas outras pessoas, pessoas de todos os tipos... Enrugadas. Pequenas. Redondas. Compridas. Altas. Baixas... Várias e várias pessoas. Tinham animais também... E novamente aqueles homens sorridentes...

Não...


Meu peito ficou pesado por um instante após a palavra ecoar novamente, mas logo se recuperou. As pernas vacilaram e abracei a lama novamente. Ela estava mais fria que de costume...




Não...



Por quê... "não"?



Tentei buscar uma resposta olhando para o alto onde as folhas balançavam lentamente, mas nada me veio.

Olhei minhas mãos. Estavam densas. Mais claras que o preto de costume.
Chacoalhei-as. A fumaça escura se espalhou mas tornou a se formar em volta de mãos brancas e sujas que se escondiam por baixo...

O que era aquilo? Era um... corpo? Meu... corpo?


NÃO





Não... Então é o que?











Ploc











Algo muito pequeno e mais gelado que a lama encostou em meu braço... Uma gota... Por que estava tão gelada?















                                           Ploc




Ploc














                  Plic



                           Ploc





    Ploc






       Plic




                                  Plic




     Ploc



Ploc     ploc



    Plic  ploc



                      Plic      plic



Ploc       Plic


Ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic ploc plioc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic plic plic plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic plic plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc ploc ploc plic plic ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic ploc ploc ploc plic...

Minha visão começou a ficar deformada e meus olhos meio pesados. Passei a mão no rosto para tentar limpar, mas os olhos começaram a arder. Ficaram mais pesados e a visão mais turva. Por mais que passasse a mão no rosto o ardor não saía, nem a visão melhorava. Cheguei a não conseguir mais abrir os olhos...

Tentei continuar a andar... Acabei caindo novamente...




Virei-me para cima e deixei que os pingos gelados caíssem em mim... Os olhos melhoraram...

A cada pingo a fumaça de minhas mãos era perfurada mostrando o marrom da sujeira escorrer para mostrar o branco por baixo. Estava mais branco que a última vez que vi... Talvez mais arroxeado.





Passei um bom tempo parada ali, sentindo a água gelada levar a lama de mim...

Novamente minha visão ficou embaçada... Não quis limpar pelo que aconteceu antes. Deixei a chuva limpá-la também... Mas ao escorrer não senti o mesmo gelo do resto de toda água que me banhava. Era quente.



QUENTE!


Meu peito pulsou e acelerou. Meu corpo tremeu. Junto desses estímulos meus braços se moveram impulsivamente para tirar aquela coisa estranha que escorria pelo rosto..................................... Mas era apenas água.

Água.



Não era aquela dor que senti antes, que me fez retorcer enquanto olhava para uma garota. Era quente, mas................. Era de uma quentura diferente. Queimava, mas apenas superficialmente.

Aquela água escorreu novamente, mas dessa vez do outro lado do rosto. Toquei seu rastro e pude sentir uma textura meio mole mas dura também. E com o toque, senti a região esquentar.

Fui arrastando os dedos para cima até um buraco onde ficavam meus olhos. Era quente..... A ponta de meus dedos esquentaram, não como antes. Era mais confortável....... Mais água quente escorreu depois. Junto dela meu peito estremeceu e não se aguentou mais. Caí de joelhos na lama espalhando-a ao redor com água gelada e cobri os olhos com as mãos.


Tão


Quente

E tão


Bom.







Quando finalmente a água quente parou de sair tirei as mãos do rosto.
Logo à frente, ou melhor, abaixo, estava uma figura branca oval e duas mãos negras ao seu lado. Elas oscilavam com os pingos da chuva. Mas ainda copiavam meus movimentos.



Em minha mente negra brotaram algumas imagens mais. Imagens de rostos, rostos iguais entre si. Rostos e corpos. Corpos dentro de vestidos. Corpos com outros corpos ao seu lado. Mãos. Mãos tocando outras mãos, mas nunca se envolvendo. E após olhar a figura oval branca abaixo de mim tentei tocá-la. As mãos que estavam ao seu lado tentaram me tocar também, mas só senti a água gelada, recuando num impulso sem   controle.



Não... Por quê?






?




Por quê.... Eu não queria!




...








Eu vou morrer...?






Mo...rer?








Eu não quero......

                               mo........















Mo.......






                            Rer?